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Boletim Informativo nº 44 - SSGNR
de ovo, pus numa pequena espátula da
minha mãe e lá levei para perto dela, os
meus olhos não queriam crer: ela estava
a comer! Eu conseguia alimentá-la!
Eu senti-me tão útil, tão importante,
quase, quase uma heroína.
Eu estava num dilema: deixá-la ali ou
levar a mesma para casa? Decidi-me
pela segunda opção e deitei-me no
chão à sua beira.
Fui acordada pelo meu pai de manhã.
– Eva, onde encontraste essa ave?
Eu contei-lhe como tinha sido e
repentinamente o meu pai saiu.
Ao fim da manhã, ele voltou com três
militares, um dos SSGNR e dois do
Serviço de Proteção da Natureza e
Ambiente (SEPNA) que foram ver a ave.
O elemento com mais idade esclareceu
as nossas dúvidas.
– Esta ave é denominada de cagarro
ou cagarra e nós nos Açores criámos a
campanha “SOS CAGARRO” há cerca
de 22 anos, onde nós autoridades a
organizam para sensibilizar a população
e a mesma tentar salvá-los caso os
vejam em perigo, o que tem acontecido,
pois só no ano passado salvaram-se 6
915 cagarros.
– Como ele veio até aqui? Onde estão os
pais? Onde é o seu ninho? (As perguntas
queriam sair com tanta rapidez que se
atropelavam umas às outras).
Falou o outro militar:
– Os progenitores constroem os seus
ninhos nas falésias ou nas fendas das
rochas e só põem um ovo por ano no
final de maio, eles migram e o filho
fica sozinho, ao crescer e ter força
suficiente para fazer o seu primeiro
voo transatlântico, lança-se no ar ao
encontro dos pais.
Acrescentou outro:
– Os pais já partiram e esta cria partirá
entre 15 de outubro a 15 de novembro
para os mares do sul no Brasil onde se
juntará aos seus pais.
Continuou o militar mais velho:
– Eva, ficas a saber que 75% nidificam
nos Açores. São aves pelágicas, isto é,
estão adaptadas à vida em alto mar, só
vêm à terra para se reproduziram e o
que é mais curioso nesta espécie é que
conseguem lá viver por matarem a sede
com água salgada.
Depois desta conversa, senti-me
esclarecida e ao mesmo tempo
preocupada por me perguntar como ele
iria ter com os pais.
Um deles ordenou:
– É preciso levá-lo para a falésia, é lá o
seu lugar! O meu coração disparou de
aflição.
– Não o verei mais?!
– Podes vir connosco, virás no bote,
caso os teus pais autorizem.
– Por favor, por favor! – Implorei-lhes.
Nessa mesma tarde, lá fui eu com o
cagarro no meu colo, no tal chapéu de
palha. O mar com as suas ondas tão
altas não permitia que fosse possível
pô-lo num ninho sem cria e a missão
foi abortada. Como o tempo não
melhorava, ele foi ficando comigo… no
só no ano passado
salvaram-se 6 915 cagarros