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Boletim Informativo nº 44 - SSGNR
meu quarto… no tal chapéu de palha; à
noite quando me revirava na cama ou
alterava a respiração, ele acordava e
voltava a adormecer.
Éramos inseparáveis. Alimentava-o,
brincávamos, dormíamos longas sestas,
porém os dias iam passando e eu ia
ficando cada vez mais triste é que… eu
iria partir… e ele também… para sítios
diferentes.
Eu resolvi telefonar para o 295 403
800 que é a linha “SOS CAGARRO” e
indicaram-me que falasse com o Cabo-
Chefe Hélder e pu-lo a par de todas as
minhas preocupações. Qual não foi o
meu alívio ao saber que seriam eles a
vigiar a sua partida.
O dia da minha partida chegou, não
sabia se haveria de rir por ir para aminha
terra ou de chorar por deixar para trás
o meu fiel amigo. Entrei para a viatura
e mantive-me olhando-o até deixar
de o ver, os meus pais nada disseram,
deixando-me entregue à minha tristeza.
Ao dirigir-me para o avião começou
a chover, eu já não sabia se eram as
gotas de chuva ou as lágrimas que me
embaciavam os olhos.
O tempo foi decorrendo e quase todos
os dias telefonavam-me dando notícias,
até que um dia foi o próprio Cabo-chefe
Hélder que me disse:
– Eva, o “teu” cagarro como já tinha
força suficiente para voar, olhou para
o mar e para o céu e entoando um
cântico diferente lançou-se pelo
horizonte fora para onde o coração o
chamava. Fiquei tão feliz por saber que
tinham cumprido o prometido.
Já se passou quase um ano e num
determinado dia disse-me o meu pai:
– Eva, vai preparando a tua mala. Iremos
à Ilha Terceira. Eu pulei, saltei e cobri os
meus pais de beijos.
Será que o voltaria a ver? Como ele
estaria? Eu sabia que os seus pais
já tinham regressado em março aos
Açores para o mesmo ninho e que as
crias só regressaram sete anos depois
quando fossem acasalar pela primeira
vez, provavelmente não o veria.
Nós não fomos para a mesma casa dos
SSGNR, mas para uma outra que osmeus
pais alugaram o mais perto possível. Eu
decidi contar a minha aventura à família
que tinha alugado a casa dos SSGNR e
todos os dias pela noitinha ia para o
sítio onde nos tínhamos encontrado
pela primeira vez e de repente ouvi o tal
som que mais parecia o coaxar de uma
rã ou o miar de um gato. ERA ELE. ERA
ELE, O MEU AMIGO CAGARRO!
Esta minha aventura correu de boca
em boca pelos
Açores:
“Uma
menina
que nunca tinha
vivido
perto
do mar fez um amigo, um cagarro que
contra as leis da natureza e seguindo as
leis da amizade veio ao encontro da sua
fiel amiga”.
Neste momento sinto-me feliz, pois
realizei os meus dois desejos: viver uma
aventura e tornar-me uma heroína. Fico
agradecida aos militares dos SSGNR e
aos meus pais que me prometeram que
de hoje em diante o destino das minhas
férias já está escolhido.
Concluo que todos deveremos respeitar
os animais e amá-los porque eles têm
“coração” e sentimentos como nós.
Eva Esperança