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Ao dirigir-me para o avião começou a chover, eu já não sabia se eram as gotas de chuva

ou as lágrimas que me embaciavam os olhos.

O tempo foi decorrendo e quase todos os dias telefonavam-me dando notícias, até que

um dia foi o próprio Cabo-chefe Hélder que me disse:

– Eva, o “teu” cagarro como já tinha força

suficiente para voar, olhou para omar e para

o céu e entoando um cântico diferente

lançou-se pelo horizonte fora para onde

o coração o chamava. Fiquei tão feliz por

saber que tinham cumprido o prometido.

Já se passou quase um ano e num

determinado dia disse-me o meu pai:

– Eva, vai preparando a tua mala. Iremos

à Ilha Terceira. Eu pulei, saltei e cobri os

meus pais de beijos.

Será que o voltaria a ver? Como ele estaria? Eu sabia que os seus pais já tinham regressado

emmarço aos Açores para o mesmo ninho e que as crias só regressariam sete anos depois,

quando fossem acasalar pela primeira vez, provavelmente não o veria.

Nós não fomos para a mesma casa dos SSGNR, mas para uma outra que os meus pais

alugaram o mais perto possível. Eu decidi contar a minha aventura à família que tinha

alugado a casa dos SSGNR e todos os dias pela noitinha ia para o sítio onde nos tínhamos

encontrado pela primeira vez e de repente ouvi o tal som que mais parecia o coaxar de

uma rã ou o miar de um gato. ERA ELE. ERA ELE, O MEU AMIGO CAGARRO!

Esta minha aventura correu de boca em boca pelos Açores:

“Uma menina que nunca tinha vivido perto do mar fez um amigo, um cagarro que contra

as leis da natureza e seguindo as leis da amizade veio ao encontro da sua fiel amiga”.

Neste momento sinto-me feliz, pois realizei os meus dois desejos: viver uma aventura e

tornar-me uma heroína. Fico agradecida aos militares dos SSGNR e aos meus pais que

me prometeram que de hoje em diante o destino das minhas férias já está escolhido.

Concluo que todos deveremos respeitar os animais e amá-los porque eles têm “coração”

e sentimentos como nós.

Eva Esperança