
51 ESCRITA CRIATIVA
Meti-a dentro da banheira e, com a ajuda da minha mãe, dei-lhe banho. Ficou cheirosa
e com um aspeto mais bonito. Não sabia se tinha donos, se estava perdida ou se tinha
doenças.
Dei-lhe o nome de “lady”. Ela seguia-me para todo o lado, era a minha nova amiga.
Brincava comigo naquele parque deserto onde só eu e a minha irmã é que costumávamos
brincar. Corríamos pela areia, eu fazia-lhe festinhas e dava-lhe água e comida.
Mas a cadela não era um animal qualquer. Pelo que acabei por perceber, era cega. Quando
a olhei mais atentamente, tinha um olho branco e nunca fixava muito bem o olhar. Às
vezes ia quase contra as minhas pernas quando corríamos. A lady via mal, mas viu-me a
mim. O que ainda a tornava mais especial.
Mas “a casa do trabalho do meu pai” não era a minha casa. Chegou o dia em que tive de
fazer as malas para voltar para casa. Não podia trazer a cadela, não era minha, não sabia
se estava abandonada ou se estava apenas perdida.
Apesar de ter criadouma amizade coma lady, nãopodia
retirá-la aos donos que, com toda a certeza, a amavam
muito. Também não podia deixá-la ao abandono na rua.
Deixámo-la com uma vizinha que dizia nunca ter visto a
cadela antes por aquela zona, mas que gostou muito dela
e nos prometeu tratar bem dela até aparecer o dono.
Fiz cartazes com os meus pais a dizer que tinha sido
encontrada uma cadela, para contactar x pessoa caso não tenham um animal de
estimação perdido.
Até hoje não sei se a lady encontrou os donos ou se passou o resto da vida com aquela
simpática senhora. Voltei à praia da Vitória com os meus pais o ano passado. A “casa do
trabalho do meu pai” tinha agora melhor aspeto, estava pintada. A praia continuava com
o extenso areal onde eu fazia castelos na areia com a minha irmã e dava passeios com o
meu pai. Mas a lady não estava lá.
Aquela visita à Praia da Vitória deixou-me com saudades da minha infância, das férias
na casa da GNR da Praia da Vitória, dos momentos em família e na sensação de amizade
entre os animais e as pessoas.
Na maioria das vezes são eles os nossos melhores amigos, dedicando amor e lealdade,
além de companhia e divertimentos
Essas férias não foram como as outras. Recordo-me delas com muito carinho, com
vontade de voltar atrás no tempo. Talvez um dia volte a encontrar a lady. Talvez ela já
tenha morrido. Mas eu nunca me vou esquecer dela, nem daquelas férias passadas na
casa da GNR.
Joana Rogado